Certa vez, num dia incerto, estava eu sentado em meu sofá, distraído, conversando entre amigos. Na TV, ligada e esquecida, brotava uma novela qualquer. Não me lembro ao certo os porquês, mas na cena em questão dançava uma mulher o clássico pole dance americano.
De vislumbre, no canto sutil de meus olhos, a imagem dançava em ritmo frenético. A mulher e o metal no qual se enroscava eram um, faziam um, diziam um.
Foi então que nasceu a poesia.
Escrevi no caderno de notas, ao lado do telefone. A magia do momento me tomou, e as palavras, embebidas então pelo fulgor, saltaram pelos meus dedos após sua travessia de imaginários em cada nervo de meu corpo.
Dei a luz uma poesia, sua forma era poema. Como de praxe, li para os presentes, que aplaudiram a inspiração.
Deixei a poesia no caderninho.
Esquecida em seu repouso, não reclamara seus direitos a publicação. Era demais pr’ela.
Tempinho depois, procurei a poesia, pois me lembrou um dos amigos presentes na ocasião, e ela já não estava lá. Fora arrancada, e só vestígios do papel sobraram.
Hoje penso: que terá acontecido com ela? Será a menina-dos-olhos de uma moça que ainda a lê antes de dormir? Terá se tornado lixo e morre eternamente, calada em seus suspiros fadados ao esquecimento? Encanta o jovem apaixonado? Jaz ao lado de um suicida?
Eis a maravilhosa beleza da arte, da poesia.
Eis minha obra prima.