quarta-feira, 19 de março de 2014

Tato

Alguns dizem que não tenho tato
e que sou grosso
irritado
e me prometem, seja em gritos
ou em olhares calados
um fato que até hoje não falhou:
“Serás deixado no passado”.

Doce realidade, em que a verdade
não se demora confundir com vaidade.
Em que o impulso, o ímpeto
abre direto o alçapão
que te faz cair, sob pena de maldade,
o que não era mais que uma explosão.

E por que não?
Por que não se deixar explodir?
Por que não deixar sair aquilo que incomoda?
Para parecer príncipe, o sapo não pode coaxar.
Já que não sabe cantar, o que lhe resta para manter a cena
é o silêncio.

Acho isso uma pena. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Colo do Pai

Eis-me aqui, filho.
Volto para a casa dos sonhos
onde sei que m'esperaste
por tanto tempo aí perdido.
Trago-te agora um sentido
para a crença que deixaste.

Sabes, filho,
em seu íntimo
que por mais que esta busca as cegas
possa fazer de teu prazer tão ínfimo
(mímese no próximo
muleta no amor)
não há busca mais a esmo,
pois ninguém é para ti indispensável
como és para si mesmo.

Não há morte, não há perda
que, cedo ou tarde,
não culmine na cabeça
levantada em estandarte.
Demonstrando, então, com arte,
que tudo um dia se supera.

Então agarra, filho, essa quimera
que hoje devora teu peito
pois se há alguém
para quem deves respeito
não há jeito, não há forma:
para respeitá-la
respeite-se primeiro.
Esse não te abandona.
Esse, não decepciona.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Rimas de dor

Quando me disseste que era o fim
com sua voz fria de marfim
gritei em desespero e dor
segurando em mim o pranto:
Te amo!
Te amo!
Tanto!

Assim veio o sofrimento
arauto de tormento.
Palavras e abraços ampararam...
Mas só por um ínfimo momento.
Te amo...
Te amo...
E tento...

Te esquecer mas não consigo.
Penso em teu corpo... Em teu beijo...
E sigo incurável neste ansejo
pois te amo
te amo
e te desejo

O caminho para a paz
e o fim de todo amor
está na escolha que se faz
então escolha seu valor.

Convenço-me hoje do que sei
E retorno agora à vida
Na qual fui outrora rei
Te amo...
Te amo...
Te amei.

domingo, 2 de setembro de 2012

As dicas do fim

“Olá”, foi o que disse o fim quando chegou.
Não sabia quem ali estava, ou quem falava...
Só queria saber de chegar e sentar.
E assim fez...
Depois do que falou
Sobre minha estupidez.

“E que lágrimas são essas?”, começou o fim,
“Queres uma vida de presente? Não percebes
o problema com o que sentes?”.
“Dói muito”, respondi, impaciente,
“Só quero isso longe de mim...”.
“Não posso realizar tal proeza.
Sou só o fim, de três letras,
menor que ‘amor’, o remédio perfeito
para os males aí em teu peito”.

“Não quero amor, fim.
Só quero a maldita dor
Bem longe de mim!”

“Ora, por favor!
Não te faças de rogado!
Sabes muito bem que mal de amor
Com novo amor está curado!”

Bem sábio esse fim...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Autoria

Risco um fósforo
e ainda em chama
apago sua cabeça
na página de meu livro.

Assinatura de esmero
aquela que deixo.

De minha autoria.

sábado, 20 de agosto de 2011

Paulo Leminsk

Algumas versões que fiz de poesias do Paulo Leminsk. São elas, respectivamente: Merda e ouro, Um dia vai ser, Um bom poema, Tudo que eu diga seja poesia.


Merda ed oro

Merda è veleno.
Tuttavia, non c'è nulla
che sia più bello
di una bella cacata.
Cacano i ricchi, cacano i poveri,
cacano i re e cacano le fate.
Non c'è merda che si paragoni
allo stronzo della persona amata.


Un giorno verrà

sui sentieri che prendo
un giorno verrà
ma non so quando.


Una bella poesia

una bella poesia
ci vogliono anni
cinque a giocare palla,
ma cinque a studiare sanscrito
sei a portare pietre,
nove a frequentare la vicina,
sette ad essere pestato,
quattro a camminare da solo,
tre a cambiare città,
dieci a cambiare l'argomento,
un'eternità, io e te,
a camminare insieme.


Tutto quello che dirò sarà poesia

mulino di versi
alimentato dal vento
nelle notte di bohème

verrà il giorno
in cui tutto quello che dirò
sarà poesia.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Canção de outono

Tradução livre do poema Chanson d'automne, de Paul Verlaine

Os soluços longos

dos violinos

do outono

ferem meu eu

sem apogeu.

Monótono.


Sufocantes... Sufocantes...

E distantes

são as lembranças

daquelas ânsias...

Que choram.


Sempre vou

nas tempestades

que me levam

daqui pra lá

de lá pra cá

como faz

com as

folhas

mortas